domingo, 13 de junho de 2010

Campeão

Era uma vez um campeão. Sim,um campeão! Um menino chamado Kleberson, que vivia de baixo de um viaduto com a mãe os dois irmãos e talvez um resto de esperança aqui e ali... Todos os dias ele ia até a banca de jornal ver as manchetes, com a espera de ler ali algo que fizesse seu dia um pouco melhor. Corinthiano de berço, ele ficava fascinado toda vez que via o placar a favor de seu time, ele não tinha nada, ele não era ninguém, porém por alguns instantes um sorriso se esboçava em sua face sórdida.
Assim como Lucas, quase toda população brasileira, e boa parte da população mundial, alimentam esse sentimento de catarse... Colocamos pra fora sentimentos frustrados e liberdades reprimidas, pois não é aceitável, moral e eticamente, descontar isso na sociedade. Futebol nada mais é do que um pão e circo dos tempos atuais, e talvez até mais antigos. Queremos guerra, mas não lutamos, queremos mudanças mas não mudamos, queremos voz mas não temos opinião, queremos propor idéias e sermos ouvidos, porém pensamos calados e continuamos surdos. Somos cegos para a realidade e surdos para a verdade. Esquecemos quem somos e por que somos, alias, nem sequer pensamos mais em coisas assim... Por quê? Porque não fomos educados pra isso... Desde pequenos já temos um time, já temos uma nação. Porém não temos uma idéia e muito menos opinião, afinal convenhamos que é muito mais fácil desenvolver idéias e opiniões que já existem e que são impostas desde sempre, do que criarmos as nossas próprias. Pensamos pelo que os outros pensam e daí formamos nosso caráter... Esquecemos a muito tempo de que o caráter é formado pelo que pensamos, e não o contrário.
Futebol é e por muito tempo irá continuar sendo nosso porto seguro, temos algo com que podemos nos preocupar e que nos faz felizes sem nem ao menos afetar diretamente nossas vidas. Se o seu time ganha e um paciente em estado terminal ganha a doação de órgão que tanto precisava pra sobreviver, tudo no mesmo dia, você é capaz de gritar e comemorar pela vitória do time, mas não pela vida que foi poupada. Os dois não interferem diretamente em nada na sua vida, você continuará sendo você e sua vida ainda será a mesma... A diferença entre os dois, assim como a diferença entre mártir e suicida, é a cobertura da mídia.
E o Kleberson? Chorava quando descobriu que seu time havia perdido o campeonato na final, quando foi atingido por uma bala perdida. Seu corpo foi jogado em alguma vala da capital, e nem o time nem ninguém, somente sua mãe e seus dois irmãos perceberam o triste fim de sua existência. Era uma vez um campeão.



Gustavo Henrique de Faria.

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